Meios e Mídias · Pensamentos Aleatórios

Apologia à Pale Ale.

Assistindo a segunda temporada de Falling Skies. De fato eu tinha parado na primeira. Quase acabando e pensando aqui cá comigo, o único jeito de nunca ser manipulado é ter um grau de desconfiança no outro e um grau de desprendimento com a opinião ou a posição ou o que seja, que te permita a não-ação. Ou a ação unica e exclusivamente guiada pelas correntes (o que é a total manipulação, mas de um jeito tosco: já que vou ser manipulado mesmo, sigo o fluxo, apenas isso…) e nenhum apego a consequência da ação (ou da não ação).


A verdade é tão multi-facetada que não é possível, de fato, diferencia-la do engano de boa fé ou da completa manipulação intencional. Se é que existe verdade. Ou boa fé.
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Palavra que cura · poesia

Eremita

De tempos em tempos eu tenho a impressão que sou só eu.
Perdida.
Insone.
Confusa.
Assustada.
Cansada.
Paralisada.
Dispersa.
Infeliz.

De vez em quanto, eu me sinto o eremita que já quis ser.
No alto do alto do alto da montanha que habita em mim.
Gritando pro abismo alguma bravata sem sentido
E de resposta, só o eco, que nunca sabe o que diz.

De tempos em tempos.
De quando em quando.
De hora em hora.
Agora.

Agora.

Meios e Mídias · Paradigmas e comportamentos

Spoiler. O que que tem?

A gente tem que ter um certo peso. Uma certa aparência. Uma certa realização profissional. Um certo poder aquisitivo. Uma certa cor de pele. Uma certa sexualidade. Uma certa religião. Uma certa posição política. E agora, um certo ritmo para assistir série na TV.

Spoiler é agora institucionalizado. Ainda fazem graça com você: “Pô, tá todo mundo falando, todo mundo já viu, eu tinha que esperar você?”
Todo mundo não, cara pálida. Talvez o grupo que gire em torno do seu umbigo, talvez. Pelo visto, nem isso.

Eu lembro quando alguém soltava um spoiler sem querer num grupo de amigos, como era condenado ao ostracismo… Paria social. Agora, paria social é quem tem mais o que fazer da vida e não viu a série XYZ no INSTANTE em que ela foi lançada na TV a cabo.

Se vira, mané…. se não quer saber, não acesse a internet. Problema seu. Não mandei não ver, não ter TV a cabo, não ter pirateado a série, ter hora pra dormir, ter hora pra acordar, ter vida social, ter feito outras escolhas. Não mandei. Eu vi, e vou abrir minha boca grande para contar o final. Só porque eu posso. Só porque eu quero. Só porque preciso que o mundo saiba a minha opinião a respeito do episódio que meu amigo ainda não viu. E tá reclamando porque é dos mimimis (no meu caso, #mimidri porque eu patenteei essa parada e ninguém paga as minhas contas).

Grande bobagem, né? É só a pinóia de uma série de TV, que tem HQ relacionada (que podia ou não ser respeitada na adaptação)… Mas é só mais uma prova de que as pessoas não tem um pingo de respeito umas pelas outras. Só não tem.

Palavra que cura · Pensamentos Aleatórios · poesia

Eu (e os outros eus)

As vezes tenho essa recorrente sensação de que faço de conta bem demais. Que adaptada e conformada, como a boa menina que eu sempre fui, represento os papeis que me cabem nas histórias que me acontecem.

Já fui outra que não essa.  E antes disso outra mais.  Já fui muitas.  Todas cascas. Capa. Personagem. Papel.

Quando esperam bem de mim, performo. Atendo. Supero. Comercial de margarina. O show de Truman. A vida como ela (parece que) é.
Quando esperam mal de mim. performo também. Patético papel secundário do pior ator que há de performar. Pífio. Sofrível… E vamos todos mudar de canal.

Mas são todos só papeis.

Aquela que foi um dia
Aquela que se perdeu
A que fez o longo caminho de volta
A que prevaleceu.

No fundo, eu mesma, dentre todos os outros eus, senta no chão e encara a longa escada que nunca há de subir. Para fora. Eu. Apenas eu. Só eu. Se é que eu ainda existe em algum lugar.

As vezes tenho essa recorrente sensação que Eu já nem mora mais aqui.

Palavra Alheia · Uncategorized

I can’t save you now

Hoje vou pegar palavra alheia emprestada.

“I Can’t Save You Now”

Cracks in the concrete
Breaking the ground beneath your feet
Always threatening

The stars are exploding
All that you know is crumbling
You cry yourself to sleep

But I can’t save you now
I can’t save you now
I can’t save you now
I don’t know how

You can’t see your fault lines
You say “this earthquake isn’t mine”
But it’s yours every time

Your fragile and broken
World will one day begin again
Just know it’s not the end

But I can’t save you now
I can’t save you now
I can’t save you now
I don’t know how

(Tyrone Wells)
Reminiscências · Uncategorized

A igreja da Vila (Memento)

Entendo que a letra que a mãe cantava de Camponesa é BEM diferente da canção original. Isso eu entendo. E gosto mais da letra da mamãe que é menos pretensiosa, eu acho. Talvez tivesse mais estrofes também, mas a que ficou na memória é um apanhando de várias da original só que eu acho mais bonitinha…  Mas como assim não encontrei a igreja da Vila na Internet?  Como assim?  Mamãe cantava pra gente e eu cantava pras crianças. Letícia até hoje, burra velha ( ❤ ) me pede pra cantar… e agora eu

A igreja da vila é branca, bonita, serena, singela da cor de marfim
A igreja da vila, tem sinos de ouro tem.  
Tem padre menino, que nem 20 anos tem. 
Tem anjos divinos, que cantam no coro, tem. 

E o resto, meu deus? E o resto?!

* PS: só para registro, a letra de Camponesa da mamãe é:
Cantando ao longo do caminho, com seu cestinho a transbordar
A camponesa diligente recolhe frutas no pomar
A bela camponesa, com sua singeleza,
seus olhos tem as cores das violetas e outras flores que no campo encontrarás

A letra que eu achei da música portuguesa pode ser vista aqui.

Palavra que cura · poesia

Morre-se

Morre-se todos os dias.
De tudo. De nada. De coisas pequenas e bobas.
Diria que morre-se todos os dias um pouco se verdade isso fosse.
Bem eu queria.
Mas morre-se. Apenas.

Pequena morte, grande morte.
Sísifo dos esforços perdidos.
Por dentro: o eco de gritos.
e uma certa anestesia
Quem, vendo de fora, diria?

Morre-se.
Todo santo dia.

Crônicas do Cotidiano · Palavra que cura · Uncategorized

O sorvete

Papai é quem gostava de sorvete.
Não vou dizer que é por causa disso, e dele, que eu queria poder comer só isso, pelos próximos anos, talvez, mas com certeza pelos próximos sofridos meses quente..  e esvazio compulsivamente os potes.  A bem da verdade, toda vez que em tempos quentes eu fico fora do prumo por alguma razão, sorvete sempre foi minha droga de escolha.

Mas é diferente, agora.

Toda vez que vou tomar sorvete, lembro dele. Ele gostava desse sabor?  Nossa, ó eu entortando a colher porque não molhei como papai me ensinou. ih, deixaram o pote semiaberto que nem seu Manel de Almeida deixava quando ia roubar sorvete escondido…
Toda vez.

Tornou-se então um ritual auto indulgente, um tanto masoquista, certamente deletério (enquanto tem, eu como. Acaba, eu compro. Enquanto tem, eu como…) de alto grau de conforto mas que em algum momento, me faz sentir essa vontade louca de sentar no chão e chorar… Tornou-se profundamente desolador.

Sabe aquela memória afetiva, de algo que grita o nome de alguém em todas as suas características, e que você não consegue dissociar, e que de repente, como um tijolo do alto da montanha em um cartoon cai na sua cabeça com a plaquinha: Nunca mais!  ?

Então… das muitas coisas na minha vida que nunca mais, eu nunca mais vou tomar sorvete com  o meu pai.